Dia 20, todos já estavam excitados com a jam que rolou no Viex Logis, inclusive noticiada no jornal Le Courrier de l´Ouest, e direito à foto da Marcela Lobbo com a seguinte legenda: "Marcella Lobbo conquista um grande público com suas músicas populares brasileiras."
Um sucesso de público e crítica, como já era previsto no dia do vernissage para abertura do festival.
À noite, no primeiro dia oficial, foi instalado um super palco móvel na praça principal e um pequeno palco para shows intimistas entre a igreja da Abadia Real e o Café Lyon d´Or. O trio Alexandre, Macaco e Juliano abriu o evento - convidou Marcela Lobbo e integraram o formato 4 queijos, uma velha brincadeira do grupo em que os três convidam um quarto.
Entre as apresentações, ocorreu a mostra de vídeos, assistida por um grande público, na praça principal, com atenção multiplicada no vídeo documentário dos indígenas guarani de Ricardo Sá. Os poemas sonoros de Caê Guimarães e a mostra instalada na praça central e no hall da Abadia, foram visitados e extremamente apreciados por todos.
Jura que chegaria para a abertura, mas infelizmente teve outros compromissos, foi substituído pelo Solana, que já tinha dado uma pequena mostra durante o coquetel.
Delírio geral.
Quando o show acabava, a jam sempre era inevitável. Espaço para todos interagirem: capixabas com capixabas, celloises e capixabas, celloises com celloises. O show não acabava até o último suspiro. Palmas para todos.
Dia 21, Marcela atacou de DJ no palco ao lado do café. Muitas pessoas ouviram seu repertório, misturando lounge e música popular brasileira, numa musicalidade heterogênea, pra ninguém botar defeito, muito contrário... seduziu a todos sentados confortavelmente na área externa do café, regados a uma cerva gelada merecida no verão francês e a um bom rouge. Só pra aquecer.
A montagem pesada começou na Abadia logo cedo com o trabalho primoroso da Reves Marines do querido Joel e seu incansável filho. O cenário é de tirar o fôlego, já que estamos falando de paredes erguidas a partir do século XI - filme medieval. A área dos shows é o claustro da Abadia, onde os monges meditavam... isso claro, bem antes dos capixabas chegarem!
Passagem de som, luz, vídeo e cenário durante todo o dia, com o bom humor inacreditável da galera, depois de muitas horas de música, dança e de rouge. A verdade é essa, todos dançaram muito na energia que rolou sem parar. A festa não parou e a cidade toda se envolveu.
O teatro, fez uma intervenção com Reginaldo Secundo dos Taruíras Mutantes invadindo o cenário, cantando um belo canto gregoriano, como parte da performance prevista, deixando o gostinho para a peça no outro dia. Uma invasão inusitada e muito aplaudida - como sempre! O respeito ao trabalho artístico e o reconhecimento a toda a manifestação é uma das coisas que temos muito que aprender por essas bandas daqui.
Os filmes em animação do Instituto Marlin Azul foram exibidos na sequência, sempre entremeados pelos belos poemas de Caê, com a base sonora feita especialmente para o projeto por Léo Grijó, com leitura de Aline Yasmin, Ricardo Sá e de Gilbert Chaudanne, quem os traduziu com a Jô Drummond. Um belo trabalho que em breve se transformará num projeto maior com a parceria da Rádio Espírito Santo, onde os áudios foram gravados.
A banda de Reggae Zambrocal, da região de Poitou Charentes, abriu o evento e já começou a colocar a galera pra dançar. Detalhe: o vocalista estava com uma camiseta escrito BRASIL, mais um exemplo da gentileza e do acolhimento do povo francês.
A banda Nativix levantou o povo e o show estava indo muito, muito bem, até o mixer ter problemas e o vocalista Fabricio achou melhor interromper o show. Uma pena. Mas o trabalho foi mostrado e apreciado por todos enquanto durou, inclusive por capixabas que ainda não conheciam o trabalho da dupla.
Na sequência, o In-versão Brasileira quebrou tudo e fez um show de arrasar. Sonoridade rica, técnico, conceitual e de alta qualidade artística. De cara, fecharam dois contratos e saíram de lá com um empresário residente na cidade de Niort. Um luxo. A galera saiu muito feliz com a primeira oportunidade no exterior e ainda com um super reconhecimento de todos - capixabas e poitevins. Sucesso! Santé! um brinde a essa galera que acreditou e se lançou com a cara e a coragem. Valeu Bossois (ou seria bon soir?) por ter levado fé. O final está só no começo. Pra quem não sabe, o mercado francês é um dos mais importantes do hip hop internacional.
A galera não se aguentou e vamos lá com mais uma super jam articulada por Macaco. Dessa vez, mostraram ainda o talento Myakawa, Marcinho e Reginaldo Secundo que fechou a jam com uma perfomance surpreendente de Terra Prometida. Todos enlouqueceram com sua performance no palco. Viva a energia brasileira!
22 de Agosto e estávamos no ápice do festival. A atriz Vanessa Karton tem um trabalho maravilhoso e pouco visto por aqui: ela percorre a cidade contando histórias reais de cada lugar por onde passa. A história da praça, da rua, da igreja, do parque... um trabalho lindo de reviver a memória e a ludicidade da cidade. Pena os brasileiros não poderem participar pois se trata de uma apresentação em francês, mas ela promete vir ao Brasil e estudar o português e as histórias locais para tentar reproduzir algo semelhante por aqui. Independente disto, já está sendo pensado um projeto em parceria com o grupo Taruíras Mutantes, para uma produção coletiva futura, franco brasileira.
Rogerinho Borges fez sua apresentação no palco intimista do Café acompanhado por vários artistas, dentre eles, Alex Lima, Waguinho, Macaco, Caio, Marcinho e Marcela Lobbo que deu uma super canja novamente. Encantou a todos com sua musicalidade e técnica da boa e velha música popular brasileira amada por todos.
Rogerinho também fez de lá vários flashs ao vivo, contando tudo para a Rádio Universitária e para a TVE e trocou figurinhas com a rádio local.
Alex Lima abriu os shows da Abadia e mostrou o quanto seu trabalho está maduro artisticamente, com pitadas de eletrônico e reggae, conseguiu mostrar um caldeirão efervescente do mais alto nível. Todos enlouqueceram com o show e com o artista que tem o privilégio de ouvir seus refrões repetidos pelos franceses que o adoram por aquelas bandas. Naturalmente.
Entremeados por filmes e poemas, na sequência, tivemos também a peça 1555. Brésil, un pays imaginaire. A peça escrita por Aline Yasmin e Caê Guimarães é uma versão histórica ficcionada sobre o francês Villegagnon e a Confederação dos Tamoyos no Rio de Janeiro, na tentativa de colonização conhecida por França Antártica. A peça impressionou a todos os franceses - já que a maioria desconhecia essa parte da própria história. Reginaldo começou a peça como Villegagnon e finalizou como o índio Aimberé, numa performance impactante, uma vez que ele foi aos poucos revelando essa transformação, com auxílio do vídeo arte com imagens de Gilbert Chaudanne -como o Villegagnon velho em memória. Olhares atentos e muitos aplausos.
O show do Solana causou frisson com a performance cênica e musical do grupo.
A abertura contou com a presença da francesa Cristiane, esposa do Hervé, que com a ajuda de Aline Yasmin e de muito rouge, traduziu um poema escrito em português em sua casa, por Juliano e o leu em francês para o público presente. Arte feita ao vivo e a todo o momento.
Juliano Gauche, com a impressionante postura de palco arrancou aplausos da plateia, assim como os belos acordes da guitarra perfeita de Rodolfo Simor, da batera madura de Bento Abreu e do baixo elegante de Murilo Abreu. Aplausos pra banda que mostra a cada dia seu preparo para enfrentar públicos exigentes.
Jo Brothier da Eurodisney e Bernard, gerente de cultura da importante cidade de Ville Urbaine (ao lado de Lyon), estavam presentes e se encantaram com o show. Belos frutos se esperam desse contato entusiasmado. Aguardem!
Ao final, mais uma jam, dessa vez com a voz de Myakawa e o desfecho da Marcela Lobbo – lobo mal. O teclado do francês Jeremi e o sax do Fifi mais uma vez integrados. Aplausos arrasadores. E a festa não pode parar.
"Amanhã, será apoteótico, dizia Antoine Violette, presidente do PATAKAPARA!" , seguido por SUPER! GENIAL! EXCELENTE!
O produtor Edu Louzada registrava tudo eufórico.
Dia 23, depois de noites quase não dormidas, a energia do último dia. Público consolidado, artistas integrados.
L´Orangé abriu os concertos no café. Um som instrumental super elegante, que acompanhou o final do dia, que lá vai até as 10 da noite no verão. Um som de altíssimo nível da galera que já tinha participado no ano passado.
Jura chegou e fez - um repertório pocket cover para agradar a todos os continentes - chegou acompanhado de amigos franceses que participaram do show. Leve e alto astral, pra começar a noite.
Vídeos, poesias sonoras, instalações no parque da Abadia da Monique Pineau - mais conhecida como Momô. Uma figura. Nada a descrever, a não ser uma grande história, lúdica, do que ela chamou de coletivo imaginário pelo viés do sanitário para falar das excremências dos homens, daquelas como diria Karl Marx, que são sólidas, mas se desmancham no ar... conceitual, amigos, e extremamente filosófico.
Gustavo Macaco e os Cavalos (Marcinho, Myakawa e Caio) abriram o final, melhor dizer o show da praça do nosso último dia. Repertório dançante, pop, romântico e leve, com pegadas de rock. Um lindo show, com a presença carismática de Macaco. Contou com a participação de Caê Guimarães e de Aline Yasmin, que leram respectivamente em português e francês o poema Armadura de Beijos de Caê. Très chic.
Na sequência, a jam colocou todo mundo pra dançar num clima de total integração e alegria.
Ao final, o lançamento do vídeo clipe, que fechou com chave de ouro a participação brasileira, uma produção coletiva com a direção de Bento Abreu, aplaudida por todos.
O DJ Cottron, com seus vinis mágicos, fez uma programação que percorreu dos anos 20 aos 80, numa seleção que deixou todo mundo com os pés fora do chão. O cansaço da maratona não foi suficiente para parar a galera. Festa na praça, com a presença da cidade e uma enorme saudade já estampada na cara de todos, contando os dias para o L´ESPIRITO POITOU 2010. Começamos agora a contagem regressiva ...
Todas (ou quase) as imagens foram captadas pelo super Henrique, nosso videomaker de plantão, incansável numa maratona de mais de 100 horas entre a chegada da galera e a partida sentida na praça da igreja. Olhos marejados e muitas, muitas histórias felizes pra contar e lá, ensinamos no bom português a palavra SAUDADE, integrada ao vocabulário poitevin, repetida pelos capixabas.